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Por que é tão difícil dizer “não”? A psicologia explica
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Por Eduardo Gonçalves
Quantas vezes você já aceitou um pedido mesmo quando não queria? Ou disse “sim” apenas para evitar conflitos, parecer educado ou não se sentir culpado? Dizer “não” pode parecer simples, mas para muitas pessoas é um verdadeiro desafio emocional — e a psicologia tem explicações para isso.
A dificuldade em negar algo a alguém está muitas vezes relacionada à nossa necessidade de pertencimento, aceitação e manutenção de vínculos. Somos seres sociais, e, desde cedo, aprendemos que agradar é uma forma de garantir afeto, segurança e aprovação. Quando essas estratégias se tornam excessivas, porém, acabamos nos colocando em segundo plano, comprometendo nosso bem-estar para evitar o desconforto do outro.
Segundo a psicóloga Eduardo Gonçalves, especialista em Terapia do Esquema, essa dificuldade está frequentemente ligada a esquemas emocionais formados na infância. Um exemplo comum é o esquema de subjugação, no qual a pessoa aprende, ainda muito jovem, que precisa suprimir seus desejos, opiniões ou necessidades para evitar punição, rejeição ou abandono. “Pessoas com esse esquema tendem a sentir medo de desagradar, de serem vistas como egoístas ou de causarem conflitos. Assim, mesmo quando o ‘sim’ vai contra sua vontade, elas preferem ceder a correr o risco de serem rejeitadas”, explica.
Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o foco recai sobre os pensamentos automáticos disfuncionais que surgem diante da possibilidade de dizer “não”. Frases como “vou decepcionar se recusar”, “as pessoas vão achar que sou má”, ou “ele nunca mais vai me chamar” podem vir à tona rapidamente, sem que a pessoa perceba sua irracionalidade. A TCC trabalha para identificar, questionar e substituir essas crenças por pensamentos mais equilibrados, além de desenvolver habilidades sociais e treinos de assertividade.
A assertividade, aliás, é um conceito central quando falamos sobre aprender a dizer “não” de forma saudável. Trata-se da capacidade de se posicionar com clareza, firmeza e respeito, sem agressividade ou submissão. Muitas pessoas confundem dizer “não” com ser rude ou insensível, mas a recusa pode — e deve — ser comunicada com empatia e coerência, respeitando a si mesmo e ao outro.
“Aprender a dizer ‘não’ é um exercício de autoestima e de autorrespeito. Significa reconhecer seus limites, honrar seu tempo e suas necessidades. E isso não faz de ninguém uma pessoa egoísta. Ao contrário: é justamente esse equilíbrio que sustenta relações mais saudáveis e verdadeiras”, afirma a terapeuta.
Outro fator que pesa é o medo da culpa. Muitos adultos foram educados sob a lógica da obediência e da responsabilidade emocional pelo bem-estar alheio. Assim, negar um pedido pode despertar um sentimento de culpa desproporcional — como se recusar algo fosse uma transgressão moral. Com o tempo, esse padrão torna-se automático e difícil de romper sem apoio psicológico.
É importante destacar que o “não” é uma forma legítima de cuidado. Ele estabelece fronteiras, organiza prioridades e protege a saúde emocional. Dizer “sim” o tempo todo não é sinônimo de gentileza — pode, muitas vezes, ser uma forma silenciosa de autoabandono.
A boa notícia é que essa habilidade pode ser aprendida. Através da terapia, é possível identificar os padrões que dificultam o posicionamento, resgatar o direito de escolha e treinar respostas mais assertivas no cotidiano. Começar com pequenos “nãos” em situações menos desafiadoras é um bom caminho. Com o tempo, o desconforto inicial cede lugar a uma sensação de liberdade e autenticidade.
No fim das contas, dizer “não” é também uma forma de dizer “sim” — para si mesmo.