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Culpa: quando o sentimento se torna um peso desnecessário
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Por Eduardo Gonçalves
Sentir culpa faz parte da experiência humana. Em doses equilibradas, ela pode funcionar como um sinal ético, uma bússola interna que nos ajuda a reparar erros e manter relações saudáveis. Mas quando esse sentimento se torna recorrente, exagerado ou deslocado da realidade, ele deixa de cumprir sua função adaptativa e passa a ser um fardo emocional — silencioso, paralisante e, muitas vezes, injusto.
O sentimento de culpa excessiva afeta milhares de pessoas em diferentes contextos: mães que se sentem insuficientes, profissionais que acreditam não fazer o bastante, filhos que carregam culpas familiares antigas, entre tantos outros exemplos. Em muitos casos, a culpa não vem de uma ação concreta, mas de uma expectativa interna idealizada e impossível de ser cumprida.
Segundo a psicóloga [Nome], especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a culpa patológica está frequentemente associada a distorções cognitivas — formas de pensar rígidas, automáticas e disfuncionais. “A pessoa com culpa exagerada costuma se julgar com extrema severidade, acreditar que deveria ser perfeita ou assumir responsabilidades que não são dela. Esses pensamentos, quando não questionados, alimentam sentimentos de fracasso, vergonha e autossabotagem”, explica.
A TCC trabalha justamente na identificação e reestruturação desses pensamentos disfuncionais. Por exemplo, uma mãe que se sente culpada por não conseguir dar atenção plena ao filho enquanto trabalha pode estar se baseando na crença de que “uma boa mãe deve estar sempre disponível”. Ao analisar essa crença e suas origens, o paciente pode flexibilizá-la, reconhecer seus limites e cultivar uma autocompaixão mais realista.
Já na Terapia do Esquema, a culpa crônica costuma estar ligada a esquemas precoces desadaptativos, como autossacrifício, padrões inflexíveis ou subjugação. Pessoas com esses esquemas tendem a se colocar em segundo plano, atender às expectativas dos outros mesmo à custa de seu bem-estar e internalizar a ideia de que não têm o direito de falhar ou de priorizar suas próprias necessidades. “São padrões emocionais aprendidos ainda na infância, muitas vezes em contextos familiares marcados por rigidez moral, críticas constantes ou ausência de validação afetiva”, afirma a terapeuta.
O problema é que esse tipo de culpa constante não corrige comportamentos — ela apenas paralisa. Quando nutrida por tempo demais, a culpa desgasta a autoestima, dificulta a tomada de decisões, mantém a pessoa presa ao passado e pode abrir caminho para transtornos como depressão, ansiedade e burnout emocional. Em vez de promover a reparação, ela alimenta o autojulgamento e o ciclo de punição interna.
Ressignificar a culpa envolve reconhecer os próprios limites, desenvolver um olhar mais compassivo sobre si mesmo e aprender a distinguir o que, de fato, é responsabilidade própria e o que foi introjetado ao longo da vida como uma obrigação imposta. “Nem toda culpa é sinal de erro. Às vezes, é apenas um alerta de que estamos tentando atender a expectativas impossíveis ou vivendo sob regras internas que já não fazem sentido”, destaca a psicóloga.
A busca por ajuda terapêutica pode ser essencial nesse processo. Por meio da escuta clínica e de técnicas específicas, é possível entender as raízes da culpa, quebrar padrões autossabotadores e criar novos significados para a própria história. Afinal, liberar-se de culpas infundadas não significa negligência ou egoísmo — é um ato de cuidado e liberdade emocional.
Em tempos de sobrecarga e cobrança constantes, aprender a lidar com a culpa é um convite à leveza. E talvez o primeiro passo seja fazer as pazes consigo mesmo.