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A solidão na era da hiperconectividade: por que nos sentimos sozinhos mesmo estando sempre online?
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Por Eduardo Goncalves
Vivemos em um tempo em que é possível conversar com alguém do outro lado do mundo em segundos, compartilhar pensamentos em tempo real e acompanhar a vida de centenas de pessoas pelas redes sociais. Ainda assim, nunca nos sentimos tão sozinhos. Na era da hiperconectividade, a solidão deixou de ser sinônimo de isolamento físico para se tornar uma experiência emocional cada vez mais presente — mesmo em meio a timelines movimentadas e notificações constantes.
Estudos recentes têm apontado um aumento expressivo nos relatos de solidão, especialmente entre os mais jovens. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a solidão já é considerada um problema de saúde pública, com impactos diretos sobre a saúde mental, a qualidade do sono, o desempenho acadêmico e profissional, além de estar associada a quadros de depressão, ansiedade e até ao risco de doenças cardiovasculares.
Mas como é possível estar cercado de conexões digitais e, ainda assim, sentir-se desconectado? A resposta, segundo psicólogos e pesquisadores da área da saúde mental, está na qualidade — e não na quantidade — dos vínculos. O excesso de interações superficiais, a busca por aprovação nas redes e a constante comparação com a vida idealizada dos outros criam um ambiente emocionalmente estéril, onde faltam profundidade, presença real e vínculos afetivos autênticos.
A psicóloga e pesquisadora [Nome] explica que, do ponto de vista da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a solidão pode estar associada a padrões de pensamento disfuncionais que reforçam sentimentos de inadequação e isolamento. “Muitas pessoas acreditam que não são interessantes o suficiente, que não têm nada a oferecer ou que os outros não se importam com elas. Esses pensamentos, muitas vezes automáticos e distorcidos, acabam influenciando o comportamento, levando ao retraimento e à evitação de situações sociais reais”, afirma.
Além disso, a hiperexposição nas redes sociais contribui para a criação de um falso senso de pertencimento. Curtidas e comentários dão a impressão de conexão, mas raramente substituem a experiência afetiva de uma conversa olho no olho ou de uma escuta verdadeira. “É uma conexão sem vínculo, que engana o cérebro por instantes, mas não preenche as necessidades emocionais mais profundas do ser humano”, complementa a especialista.
A Terapia do Esquema, abordagem integrativa que aprofunda a compreensão sobre padrões emocionais formados na infância, também oferece pistas importantes. Pessoas que desenvolveram esquemas como isolamento social, privação emocional ou defectividade — que envolvem, respectivamente, a crença de que não pertencem a lugar nenhum, de que suas necessidades afetivas nunca serão atendidas e de que há algo de errado consigo mesmas — tendem a experimentar a solidão de forma mais intensa e persistente, mesmo quando cercadas de estímulos e interações sociais superficiais.
O paradoxo da hiperconectividade é que ela nos permite estar em muitos lugares ao mesmo tempo, mas frequentemente nos desconecta do momento presente e das relações significativas que exigem tempo, escuta e vulnerabilidade. A cultura da performance e da comparação constante imposta pelas redes sociais também contribui para o esvaziamento dos laços, uma vez que se compartilha mais o que se quer mostrar do que o que se está, de fato, sentindo.
Diante desse cenário, especialistas recomendam não apenas reduzir o tempo de tela, mas também investir em relações reais e significativas, aprender a identificar e questionar pensamentos disfuncionais e, quando necessário, buscar apoio psicoterapêutico. “Solidão não é fraqueza, é um sinal de que algo importante precisa de atenção. E cultivar vínculos autênticos continua sendo um dos remédios mais poderosos que temos”, conclui a psicóloga.
Enquanto continuamos a nos mover por um mundo cada vez mais digital, a verdadeira conexão — aquela que cura, sustenta e humaniza — ainda exige presença, vulnerabilidade e afeto. E essa, nenhuma tecnologia pode substituir.