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Burnout: o esgotamento silencioso que vem do trabalho e vai além dele

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Burnout: o esgotamento silencioso que vem do trabalho e vai além dele

Por Eduardo Gonçalves

Em um mundo em que ser produtivo é sinônimo de valor, o corpo e a mente muitas vezes dão sinais de alerta que passam despercebidos — até que não é mais possível ignorar. É nesse contexto que o burnout, também conhecido como Síndrome do Esgotamento Profissional, tem se tornado um dos transtornos mais discutidos (e vivenciados) da atualidade. Embora sua origem esteja ligada ao ambiente de trabalho, seus efeitos se espalham para todas as esferas da vida: relacionamentos, saúde física, identidade e até mesmo o prazer em viver.

Reconhecido oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, o burnout é resultado de um estresse crônico e mal administrado no contexto profissional. Mas não se trata apenas de cansaço. A síndrome envolve um esgotamento emocional profundo, uma sensação de ineficácia pessoal e um distanciamento afetivo em relação ao próprio trabalho e às pessoas ao redor.

Especialistas em saúde mental apontam que o burnout está longe de ser apenas um problema individual. É um reflexo de culturas organizacionais baseadas na alta cobrança, metas inalcançáveis, longas jornadas e falta de reconhecimento. E, nos últimos anos, a hiperconectividade ampliou esse risco. A fronteira entre vida pessoal e profissional tornou-se difusa com o home office, e o “estar sempre disponível” passou a ser interpretado como virtude — ainda que à custa da saúde mental.

“É comum que a pessoa com burnout vá ignorando sinais por meses ou anos, como insônia, dores físicas, irritabilidade, baixa concentração, crises de ansiedade e sensação constante de fracasso. . Segundo a abordagem, o burnout está frequentemente associado a padrões de pensamento rígidos, como perfeccionismo, excesso de responsabilidade, necessidade de agradar e dificuldade em impor limites.

A Terapia do Esquema também contribui para compreender a origem desses padrões. Pessoas com esquemas de autossacrifício, padrões inflexíveis ou subjugação tendem a se colocar constantemente em segundo plano, assumindo responsabilidades excessivas e negligenciando suas próprias necessidades. “Muitos pacientes com burnout relatam que aprenderam, desde cedo, que descansar é sinônimo de preguiça ou que seu valor está diretamente atrelado à produtividade. Esses aprendizados moldam comportamentos que, em longo prazo, se tornam adoecedores”, destaca a terapeuta.

Os impactos do burnout não param no ambiente de trabalho. A sensação de esgotamento transborda: falta energia para estar com a família, para momentos de lazer, e até mesmo para cuidar da saúde física. Em muitos casos, surgem sintomas depressivos e de ansiedade, além de um sentimento de desconexão com a própria identidade. “A pessoa deixa de se reconhecer. O que antes era fonte de realização vira motivo de angústia. Muitas relatam que ‘não sabem mais quem são’ fora do papel profissional”, conta a psicóloga.

O tratamento do burnout envolve uma abordagem multidisciplinar, incluindo psicoterapia, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, uso de medicação. Mas também requer uma mudança de mentalidade social: é preciso repensar o culto à performance e criar espaços de trabalho que valorizem o cuidado, a escuta e o equilíbrio. Empresas que investem em saúde mental não só previnem afastamentos, como também constroem ambientes mais humanos e sustentáveis.

Enquanto isso, identificar os próprios limites e se permitir descansar sem culpa são atos de resistência. “Reconhecer que você não está bem não é sinal de fraqueza — é o primeiro passo para retomar o controle da própria vida”, conclui a especialista.

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